joaquim cesario de mello

E SE TUDO FOR APENAS ILUSÃO

 

E pensar que tudo era apenas ilusão

como aquela luminosidade tardia

no fim de um dia que se vai

em um quarto que se recusa anoitecer

 

Há dias, como hoje

em que imagino a realidade como um borrão

mas mesmo assim percebo que continuo voltando

ao que agora chamo tão somente de ilusão

talvez porque ela sempre a me oferecer

uma versão de mim que não consigo ser

 

E se tudo for apenas ilusão

de que adianta essa ardência no peito

como se a memória quisesse voltar

ao instante vivo das coisas mortas

a soma do que me cabe na palma da mão

para que o mundo não me escape de novo

 

Há nisso tudo uma gostosa ternura

na maneira como prosseguimos insistindo

no desejo de que não sonhamos sozinhos