Não sei compor o Eros. Minha pena,
Treinada em musas pálidas e frias,
Hesita ante a vibrante obscenidade plena,
Preferindo as abstratas alegrias.
Que termo usar? Diria \"corpo em chama\"?
Ou talvez, mais à moda, \"a carne pulsa\"?
Receio soar como um clichê de drama,
Quando o que anseio é a volúpia avulsa.
Meus versos são, confesso, castos freis,
Enquanto o tema exige o gesto cru;
Gostaria de narrar os nodos da pele e a lei
Que rege o rubro gozo, o olhar nu.*
Juro que tentaria descrever, por linhas mestras,
O arco côncavo do dorso sobre o lençol desfeito,
Mas a sintaxe da luxúria me atropela nas sestas,
E sou só um poeta pedante, mas sem jeito.
Porém, se a rima falha, a paixão não cala a boca,
E o que este pobre vate não escreve em alexandrinos,
Talvez se diga melhor quando a roupa for pouca...
E os gemidos quebram todos os meus rígidos hinos.