Ah!,que aflição!,que pungência!,que me tolhe o repouso e me lança.à exaustão,insistente qual espumas do licor dourado que irrompem na mente em maldição,um espectro oculto que me habita as entranhas — expelindo-me à dispersão — fazendo de meu peito um cárcere trêmulo,réu sem absolvição.
Quanta ignomínia!,por que tal sensação me caça com tão férrea obstinação?,não há gesto,alcova ou distração que vença tal perturbação; esta megera — atiçadora do desassossego,verduga da quietação — segue-me por cada órbita,e nem meu próprio espírito é bastião.
Por que tão duro flagelo?,que alma ultrajei?,que templo profanei nesta imolação?,é tormento ilógico!, mas tão vívido quanto a própria razão; anseio apenas o sopro dos sonhos,o abraço mudo da inconsciência em devoção,mas a harpia me prende na abstinência e me nega até a benção.
E tudo por um sigilo que jamais desejei ver em revelação —meu juiz se mantém na sombra — e eu padeço sob holofotes de imposição; uma mortandade!,e o único defunto é meu antigo coração,triturado em abismo profundo que regurjita sílabas de maldição.
Sou coagido a aceitar sem direito de insurgência ou contestação — que iniquidade!,viver em masmorra,restando-me apenas o próprio esqueleto em erosão;
não devo erguer discórdia,mas sou lançado na imundície sem absolvição,banhado em luz contra minha vontade,traído por sombras que antes me davam proteção.
Vasculham cada fiapo de minha essência com vil sofreguidão;alguns fragmentos oculto em tapeçarias,outros são arrancados por cruel pressão,rompendo de minha boca em dilaceração.E pergunto: que afeto subjuga?,que ser se dobra à padronização?,que arte se devora?, que fome faz rejeição?
Sinceramente,espero que minha hora chegue sem demora —me pouco sobram os amores e amoras — pois a fome vem,e a tal não marca hora.Oque me resta é punhado,oque me ameaça me devora — e um dia — não sobrarão mais amoras...