SERMÕES
Os joelhos? Calejados. Mas não era pela oração.
As preces? Ah, murmuravam. Mas não era para os anjos. As paredes úmidas escorriam desejos
Alguns confessados. Outros apenas espiados.
E, como sempre aconteceu, as pernas tremeram. Se abriram. O que antes era castidade virou um arrepio de carne.
Já sabia fazer vista grossa , ajoelhou-se diante do altar.
Era devota. Era casta. Era santa…
pelo menos até ouvir os barulhos e suspirar outras ladainhas
Um ranger de tábuas que não vinha do vento, um sussurro que não era votos
Corredores, paredes, passagens, tudo tinha seus segredos. Mas esse, ah, esse fervia…
Dizem que era amor.
Dizem que era luxúria.
Dizem que era o diabo.
Que se dane!
A verdade é que, na cama apertada, duas almas que juraram ser do divino decidiram que o Paraíso não precisava saber de tudo.
E ardiam. E se enroscavam como duas serpentes santificadas pelo desejo.
Lá fora, os homens cuspiriam no chão ao saberem. Hipócritas.
Amavam os pecados alheios mais do que qualquer prece de domingo.
E os beatos e os sacristães ? Tão humano
como todos, bebericavam seu vinho com calma na sacristia, depois proclamavam os mistérios da homilia com a mesma boca que beijava o altar e os seios de alguma viúva bem-intencionada.
Assim havia noites em que o inferno parava o turno. Os diabos assistiam, pois as chamas se apagavam, vencidas por um fogo mais mundano.
E quem disser que foi pecado, que atire a primeira pedra
mas sem muita força, porque sabe-se lá o que os anjos andam fazendo por aí.
O sino dobrou ao
longe.
Mas já era tarde…