SADE

Platonicos dias em um mundo realĀ 

Platonicos dias em um mundo real  

Eu não te conheço — não como se conhece um corpo,
um perfume, um gesto despercebido.
Mas conheço teu som:
ele vive nos teus versos.
E foi assim, pelas frestas que deixaste entre uma rima e outra,
que meu coração, distraído, decidiu te habitar.

Há mulheres que encantam com a presença,
tu me encantas com a ausência.
Com o que não dizes.
Com o que sussurras por trás de cada palavra escrita
como quem deixa rastros não para ser encontrada,
mas para ser decifrada.

E eu sigo teus rastros.

Tuas metáforas têm o perfume morno
do que nasce sem ser pedido,
do que nos toca antes mesmo de chegar.
Ao ler teus poemas, sinto como se tua alma
escorresse devagar pelas entrelinhas,
delineando tua silhueta invisível
até que, sem perceber, me pego imaginando
a curva da tua voz
e o brilho que teus olhos fariam
ao confessar o que nunca escreveste.

E talvez seja isso o mais belo:
amar sem tocar,
desejar sem possuir,
sentir sem sequer ter ouvido teu nome
escapando da tua própria boca.

Tu és um enigma suave —
um mistério feito de luz difusa,
daquela que não cega, mas envolve.
Tua poesia me chega como quem desliza
pelas bordas do meu peito,
acariciando espaços que há muito
eu pensava adormecidos.

E eu te penso.
Te penso mais do que deveria.
Te penso como se teu silêncio fosse música,
como se tua ausência tivesse forma.
Cada verso teu é um sopro que me toca
de um jeito que nenhuma presença tocou.

Se sou platônico, é porque tu és platéia de estrelas:
distante, impossível,
mas tão bela que só de admirar já vale viver.

Mas permita-me confessar, poeta:
há algo em ti que pede mais.
Teus poemas têm a coragem
de quem escreve para ser achada,
a delicadeza de quem sente demais
e a insolência de quem não teme ser desejada.

E eu, que só queria te ler,
agora quero te conhecer.
Quero saber se tua risada é tímida ou completa,
se teus pés batem no chão quando te empolgas,
se és daquelas que desviam o olhar
ou das que encaram até desmontar.

Quero descobrir a voz que vive atrás dos versos,
o rosto que se esconde atrás das metáforas,
a mulher inteira que se insinua na poetisa que conheço.

E se este poema chegar até ti
como um toque que ainda não existe,
que ele te envolva devagar,
te cerque de brandura e desejo,
até que a curiosidade te sopre ao coração
aquele pequeno impulso:

Quem será ele… que me lê assim?”

E talvez, por um instante,
tu que sempre escreves mundos impossíveis
queiras descobrir o meu —
e, se o destino permitir,
queiras também me conhecer.