A noite avança, densa e calada, O mundo dorme sob o manto escuro. A lua se esconde, a estrela apagada, E o silêncio se instala, puro e seguro.
Mas há uma fissura na noite, Um som que irrompe, fino e vibrante, No tecido mudo, que parece eterno, Um som de vida, pequeno e constante.
É o Grilo, o Músico da relva orvalhada, Que acorda e decide quebrar o segredo. Com suas asas, numa fricção ritmada, Ele tece um fio, afasta o medo.
Cric-cric... Cric-cric... Ele insiste, não hesita, Sua serenata é um ponto de luz. A frequência aguda, tão concisa e fita, É o compasso que a escuridão traduz.
Um a um, outros se juntam ao coro, Não mais o Vazio pesa sobre o ar. O silêncio parte, desfeito em namoro, Entre o som noturno e o desejo de escutar.
E assim, o pequeno inseto corajoso, Com seu ruído de atrito, simples e audaz, Faz da madrugada um tempo harmonioso, Dizendo: \"Há vida!\" e trazendo a paz.