João Pedro Gomes

Buraco

reflexos me mostram como vilão,

espelhos me atingem na pele.

não tem espaço pra defeito na perfeição,

passo a passo a ansiedade me persegue.

 

eu tento evitar,

mas não consigo deixar.

 

lentamente eu caio nesse grande buraco;

eu seguro a força, mas eu me sinto fraco,

continuo tentando não me perder,

odeio a derrota, mas ela insiste em vencer.

 

o tempo só aumenta minha ambição,

e todas as vidas perfeitas

aos poucos se tornam minha televisão.

minha mente suspeita, nunca tá satisfeita.

 

eu tento evitar,

mas não consigo deixar.

 

eu não quero cair mais fundo;

esse ideal não é o centro do mundo.

eu não quero que o espelho me destrua;

luto contra esse hábito, mas ele continua.

 

eu não quero ter um padrão irreal,

vivendo em uma sociedade superficial.

passo a passo nesse mesmo cansaço,

eu não quero cair, eu preciso fugir.

 

e lentamente eu caio,

sem perceber me comparo.