Antes, eu pensava se queria.
Hoje eu quero,
mas penso que talvez não deveria.
Encontrei a resposta nas minhas mãos e a pia,
a água fria que fluía,
escorria por entre os meus dedos,
ao som do Masego
como as horas do meu dia.
Enquanto eu refletia essa ironia
nascia outra poesia, elas nascem todo dia.
-Sorria Harpyja!- ela me dizia e sugava a minha dor
ao mesmo tempo em que crescia.
Eu sabia.
A minha covardia eu já conhecia,
só não entendia por quê a fé não morria
afogada na melancolia da tarde vazia,
na nostalgia das manhãs de sol
que eu quase nunca via.
Acordando ao meio dia
fugindo da correria,
fingindo que não sentia,
sentindo que eu nem existia.
Pedindo anistia no reino da hipocrisia
que eu tanto julgava errado,
errante eu era e mentia!
Antes era pena da vida que eu vivia,
agora que pena, a vida passava
enquanto eu dormia, eu morria.
Quem diria, eu não queria me expor a dor
e esse medo doía.
Eu tinha remédio pra tudo menos pro que me afligia,
o espelho assustava e eu não me reconhecia,
eu corria.
Eu não entendia nada, mesmo assim o peito ardia,
os olhos ardiam.
A face molhada, a água salgada fluía...
Busco companhia mas a solidão vicia.