Charles Araújo

CAMPARI

Campari

 

A vida, como um jogo de cartas, nos separou em estradas paralelas,  

Onde, apesar de tudo, o destino insistiu em nos reunir.  

Eu, à margem de meu próprio caos,  

E ela, brava felina, enfrentando suas próprias tempestades,  

Ambos em caminhos diferentes, mas que partiram de um mesmo ponto.  

 

Mas é incrível como certos encontros nunca se apagam,  

E como o tempo, que tenta nos moldar,  

Não consegue apagar o que o passado fez por nós.  

Basta uma garrafa de Campari,  

E o jogo recomeça, suave como um perfume antigo,  

Despertando memórias guardadas em cada gole, de início amargo, mas que logo se transforma em mel.  

 

Eu, como sempre, sou o amante da noite,  

Com palavras que dançam e gestos calculados,  

Mas é no silêncio dos olhos dela  

Que o tempo se torna cúmplice.  

A elegância dela, disfarçada de distância,  

Traz à tona o que fingimos não ser (amigos?).  

 

Ah, como o Campari tem esse poder...  

Com cada dose, uma memória surge,  

E com ela, o desejo de reviver o que jamais deveria ter sido.  

Não falo de promessas, nem de beijos roubados,  

Mas de um pacto silencioso entre nós dois,  

Onde o tempo nos permite brincar com o impossível.  

 

Eu não sou homem para explicações,  

E ela, doce enigma, sabe disso.  

Mas, sempre que os copos se encontram,  

O passado volta a nos chamar,  

E, como marinheiro a deriva nos tornamos náufragos  

Dos desejos mesmo sabendo do abismo 

Desse fogo que não há retorno,  

Mas a sedução do risco nos faz continuar.  

 

Proibido, misterioso e, sim, irresistível,  

É esse jogo que jogamos, sem palavras, sem promessas,  

Porque, no fim, a única coisa que nos resta  

É o que a noite e uma garrafa de Campari nos permitem reviver:  

A paixão sem nome, que adormece assim que a manhã volta a raiar...