Versos Discretos

Canto Erótico 

 

O quarto se fez templo, e a noite, um panteão discreto, 
Onde a carne se curva ao seu mais puro preceito. 
Nossos corpos se uniram, em dança de antigas Esferas, 
Onde o tempo se quebra e só o sentir impera.

Teu corpo, qual pergaminho onde o tato é a escrita, 
Revela a geografia que a paixão ressuscita. 
A boca, que era rubi, se fez Ânfora sacra e ardente, 
Bebendo o suspiro que a alma não contém, mas sente.

E a pele, aveludada, em suor que a torna mais quente, 
É o campo onde o centauro de meu desejo se expande. 
Onde a mão traça o relevo, buscando o vale secreto, 
Onde a entrega é o único e o mais divino objeto.

O entrelaçar das pernas, um nó de Hércules firme e belo, 
Que prende a vontade e incita o mais profundo apelo. 
No sítio onde a vida se inicia e se esconde, 
Onde a flor carnal espera e à haste responde,

O encontro é a fusão que transcende a matéria, 
Onde o gozo se anuncia em ímpeto de artéria.
E o gemido, não grito, mas cifra em latim vulgar, 
Onde o prazer encontra sua voz para se manifestar.

Fomos a Sinfonia que o mundo silenciou para ouvir, 
Onde a batida do êxtase nos fez a um só tempo florir. 
Ao fim, o corpo exausto, jaz em mármore morno e suave, 
Testemunha do rito que a paixão, triunfante, nos crave