Com auréola que irradia, a luz que não tem fim, A Anja Eterna, guardiã do que há em mim. Em suas mãos de seda, um relógio de bolso antigo, Medindo não só o fim, mas o primeiro jazigo.
Ele tiquetaqueia o lapso, o ponteiro a girar, Desde o momento em que a vida ousou brotar. Ela viu, no Éden, a poeira ganhar forma e voz, Os primeiros homens, ingênuos e sós.
Observou a labuta, o suor, a simples beleza De Adão e Eva, aprendendo com a natureza. Contou os dias de glória, as quedas e a ascensão, A semente do tempo em cada coração.
Mas o tic-tac se torna um arauto sutil, Lembrando que o ciclo é severo e gentil. No instante exato em que a vida deve findar, É ela quem vem, sem pressa, o ponteiro a parar.
A Morte não é um horror, mas a pausa final, Um retorno à poeira de onde veio o mortal. O relógio silencia, a missão se cumpriu, Pois do primeiro sopro ao último, a Anja viu.
No brilho do aro, reflete-se a história, Do pó inaugural à final e serena glória. A eternidade a abraça, o tempo findou seu poder, E os filhos da Terra retornam ao ser.