Anna Gonçalves

A chama da mulher

Nós mulheres ... feitas de busca e quietude,
Um vulcão sob a pele, uma doce inquietude.

Não somos só a fêmea que procria, ama, cuida e limpa.

Nem a estátua de gelo que um olhar alheio atravessa.

Temos vulcões no ventre, temos desejos que abrasam,

E a nossa própria chama é que nos guia e nos transpassa


Também não queremos apenas o toque, mas o sentido dele,
O fogo que queima com o ritmo mais contido.

Desejamos a conexão que antecede o beijo,
Um lampejo de alma, um raro desejo.
Que o lábio chegando seja em câmera lenta,
E o mundo pare, só existindo a cena.

Que o toque não seja só pele, seja músculo, seja alma e espírito. 
Correndo por dentro, na temperatura misteriosa do quente e frio.
Até se encontrar com a fonte quente,
E incendiar o instante, bruscamente.

 

Que os corpos se entrelaçam, num doce desconhecer,

E uma chama de éter comece a nos envolver.

Um universo inteiro a dois, só em sentir e em estar,

Com as coxas tão enroladas, o peito e o abraço a se encontrar.

E o olhar... O olhar que penetra e se encaixa,
Que fala por si, uma linguagem que não falha.
Dois sóis que se encontram e são um só,
Esse é o nosso desejo, o nosso dom.

Somos o grito da alma silenciosa e profunda,
Buscando no outro uma das chaves que se encaixe no nosso mundo.