Ultracrepidário

Homem-Vapor

Venha pôr o chapéu-coco
Que tampa o rosto com sua sombra
Sombra filha de Sol do meio-dia
Ou Sol da meia-noite

Venha calçar os sapatos
Que mastigam os pés
Pés filhos dos calos
Filhos da ambição
Filhos do ouro que cobre os olhos

Venha esquecer o que é amar
Esquecer o que é sorrir para a chuva
Esquecer o que é colecionar os astros da noite
Esquecer o que é banhar-se em azul-celeste

Depois tire o chapéu e os sapatos
E veja sua pele sublimar no ar
Virando vento
Levando seus nervos secos embora
E você não fará nada
Pois gostará de perder a si mesmo
Em um conforto frio
Tão frio como os vermes pálidos que guardará na carne
Tão frio como o carvalho que lhe esconderá do Tempo
Tão frio como a covardia insossa que saboreará por entre os dentes