Deise Zandoná Flores

PÁSSARO

Errei o salmo, acertei a ferida.
Ser como um cântico, supus a minha vida.
Foi menos que o primeiro.
Foi mais como um vespeiro.


Atrás de um marimbondo,
expiado como um sonho repetido,
saí do zero e, nos cento e oitenta,
era tudo o mais do mesmo,
e eu fiquei por ali mesmo


- ali, onde era o fim, sendo também início
do objetivo-vôo rumo ao precípicio.


E lá, do cimo, que era também cume
de uma natureza, que era também templo,
fez-se a face terrena do meu santuário: o centro.


Compus uma ode, que era também chorume;
cavei uma cova, que era também berçário.
Vi que a piedade era também calvário.


Eu entendi a cruz quando senti o seu peso
- muito menor que a Cruz, muito menor que o Peso.


Eu subi o monte carregando a rocha.
E lá de baixo, antes de subir de novo,
vi a Liberdade como potência, viva,
a quebrar a fina casca e nascer do seu ovo.


Deise Zandoná Flores
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