Sezar Kosta

A DOR QUE FICA

A pior dor que existe

não nasce no corpo,

nem some com remédios:

é a dor que fica

quando alguém parte

numa viagem sem retorno.

 

Há feridas na pele

que o tempo apaga.

Há dores que o choro alivia.

Mas a saudade —

essa não cicatriza.

Ela repousa na gente

como um peso invisível,

um fio puxando a alma

para um lugar que já não existe.

 

Seria mais fácil

se as lembranças aquecessem.

Se o passado fosse abrigo,

não lâmina.

Mas cada recordação

abre de novo

o espaço que a ausência deixou.

 

E seguimos.

Passos lentos,

dias que parecem longos demais,

uma vontade pequena

de continuar vivendo

quando o coração insiste

em olhar para trás.

 

A dor da saudade

é o desgosto mais profundo:

não grita,

não fere por fora,

mas trabalha em silêncio,

como noite que não amanhece.

 

Porque a pior dor do mundo

não é a que rasga —

é a que permanece.