A pior dor que existe
não nasce no corpo,
nem some com remédios:
é a dor que fica
quando alguém parte
numa viagem sem retorno.
Há feridas na pele
que o tempo apaga.
Há dores que o choro alivia.
Mas a saudade —
essa não cicatriza.
Ela repousa na gente
como um peso invisível,
um fio puxando a alma
para um lugar que já não existe.
Seria mais fácil
se as lembranças aquecessem.
Se o passado fosse abrigo,
não lâmina.
Mas cada recordação
abre de novo
o espaço que a ausência deixou.
E seguimos.
Passos lentos,
dias que parecem longos demais,
uma vontade pequena
de continuar vivendo
quando o coração insiste
em olhar para trás.
A dor da saudade
é o desgosto mais profundo:
não grita,
não fere por fora,
mas trabalha em silêncio,
como noite que não amanhece.
Porque a pior dor do mundo
não é a que rasga —
é a que permanece.