No ventre quente das cidades que crescem,
onde o solo vira disputa
e o tempo corre apressado,
erguem-se sonhos de concreto
sobre veias frágeis da terra —
e o clima, inquieto,
responde ao nosso descuido apressado.
E entre tantos territórios que se cruzam,
é a diversidade dos povos
— tão natural quanto a dos biomas —
que ensina que a própria vida
se ramifica em culturas, cores, histórias,
e também em desigualdades
que estratificam caminhos
e classificam destinos.
Nas periferias onde a chuva pesa mais,
onde o morro treme
e o rio transborda memórias,
a vida aprende cedo
que o risco tem endereço,
e que a injustiça molda
mapas, ruas e histórias.
Mas ali também nasce a força que transforma:
vozes que clamam,
mãos que se unem,
vontades que latejam
por uma natureza respeitada, conservada
e bem aproveitada.
A força que insiste em existir
nos coletivos, nas assembleias,
nos movimentos que brotam
como raízes rompendo o asfalto.
Porque participação não é favor —
é direito tecido
em cada luta em cada labuta.
Escutar o território
é aprender com sua dor e sua coragem;
é tecer estratégias
com quem vive o risco na pele;
é somar saberes, clarificar a informação,
mobilizar o bairro, a cidade, a paisagem.
E mesmo quando tudo parece miúdo,
há iniciativas que iluminam as frestas:
Óia lá a Agenda 2030,
com seus 17 ODS objetivos que nos guiam,
Oxente a COP 30, na Amazônia?
são bonanças em meio à tempestade.
Que permitem ouvir o gemido da terra,
pedindo cuidado, suporte e amor,
para que a casa comum
seja de todos, e não de alguns.
Pois alinhar as políticas do agora
com os futuros que brotam no horizonte
é escolher, com responsabilidade,
qual mundo deixaremos
nas águas, no ar, na fonte.
E quando a emergência climática
bate à porta — porque ela bate, sempre —
precisamos de instrumentos que cuidem,
de planos que abracem,
de respostas que cheguem
antes da tragédia.
É então que a Natureza fala,
se a deixarmos falar:
árvores que refrescam,
rios que se libertam,
solos que respiram
sem o peso da pressa,
caminhos verdes
que conectam vidas e proteções.
Soluções baseadas na Natureza
não são promessa distante:
são raízes que seguram encostas,
são parques que acolhem enchentes,
são manguezais que acalmam mares,
são futuros que podem, enfim, florescer.
Que a cidade aprenda com a terra.
Que a política caminhe com o clima.
Que o possível se torne urgente.
Que o urgente se torne ação.
E que nós — todos nós —
escrevamos juntos
a paisagem justa
que o amanhã merece.