Versos Discretos

A Alquimia Sob o Veludo

Se o veludo denso cede à mão que o busca, 
Revela-se o altar onde a graça reside. 
A alvura da pele, onde a sombra caduca, 
É tela de mármore que o tato convide. 
A blusa em rendas, que o fervor ofusca, 
É ponte sutil onde o gozo se anide. 
Em cada poro, a chama que não se esgota, 
No aroma do corpo, a ambrosia devota.

Da boca sedenta, o beijo que cala, 
É selo divino em pacto de instante, 
Onde a língua investiga, em febril palestra, 
A essência do afeto mais penetrante. 
O seio liberto, que a vista exala, 
É duplo orbe cálido, turgente, pulsante, 
Cujo ápice rubro, em sutil simetria, 
Clama a reverência da boca que o guia.


Que os laços se rendam, e o tecido se desfaça, 
Para que o ardor da volúpia se faça lei. 
Na cópula mística, onde a carne se traça,
 O gemido é o hino que a paixão elegeu. 
 Onde o corpo ao corpo, em febril graciosia, 
 Atinge o paroxismo que a alma bebeu. 
 Pois todo deleite é efêmero e ardente, 
 Um êxtase erudito, divino e latente.