Queria morar no começo das coisas.
Lá onde o mundo ainda é promessa,
onde a luz não sabe que vai virar manhã,
e o coração não teve tempo de criar medo.
Queria morar no instante que antecede o sim,
no suspiro antes do primeiro passo,
na pausa suave onde tudo é possível
e nada ainda foi tocado pelas mãos do tempo.
Queria viver no frescor do primeiro olhar,
no arrepio da primeira esperança,
na fé que nasce sem esforço,
pura, inteira, intacta.
Talvez porque no começo das coisas
eu ainda me reconheço leve,
cheia de portas abertas
e sonhos vestidos de brilho.
E talvez — só talvez —
o começo não seja um lugar,
mas um modo de respirar o mundo:
com o peito adiante,
com a alma acordada,
como quem sabe
que cada novo dia
é sempre o
início de alguma promessa.