Não há fronteira para o vento,
nem muro que detenha a chuva.
A Terra é una — respira inteira —
e seu chamado ecoa em cada cidade.
Seja aqui ou acolá, todos devemos preservar.
A urgência climática é um grito de socorro,
chamando nós, humanos, a conter o sangrar do mundo,
a ungir as feridas abertas
e guardar o sagrado
Chamado de Mãe Natureza que nos acolhe
e se doa na inteireza da existência.
O problema não é meu,
nem teu —
o problema é NOSSO,
pois o clima não escolhe endereço,
ele toca, desperta, ferve e cobra
de cada chão que pisamos e de cada faísca que tocamos.
E ainda assim, há beleza.
Há flores insistentes
que rompem o cimento, o pavimento
brotando rios que sussurram memória,
criando sombras que prometem abrigo.
Em Vitória da Conquista, nosso cantinho, nossa morada,
o Poço Escuro respira mistério,
a Serra do Periperi guarda histórias,
o Rio Verruga pede cuidado,
a Lagoa das Bateias cintila esperança,
e o Orquidário Zilda Gusmão
abre pétalas como preces que se elevam ao universo.
A Catedral das Flores se ergue, como a Senhora Virgem do Silêncio,
num altar que pede reverência.
Ó minha amada terra, reconheço as suas dores.
O sol que arde lá
é o mesmo que queima aqui,
lembrando que a terra inteira respira
num só peito febril.
A Bacia do Panorama, sempre estou em ti a pensar, uma espera,
sempre em alerta,
porque a chuva que deveria ser promessa
às vezes chega para arrasar,
carregada de presságios e exigindo repensar.
E a Lagoa das Flores, que alimenta e colore tanta gente,
guarda seu próprio silêncio —
espelho que dos trovões treme,
jardim que se perde e se refaz
a cada cheia, a cada enchente.
São faces de uma mesma mãe, que ferida chora, cicatriza — e flore.
Ó divindade natureza, quem és tu?
Una-se a nós que somos de Sobral, de Timon,
de Brumadinho ferido, de Bonfim e Mário Campos,
de São Joaquim de Bicas que renasce,
de Saquarema e Araruama,
de Cabo Verde que cruza oceanos na memória.
Somos de Angra dos Reis ou Altamira, São Gonçalo
de Petrópolis e Niterói,
somos universos, somos universais…
filhos da mesma Terra que pulsa em cada um de nós,
tecendo, no abraço da natureza,
o destino que juntos escolhemos proteger.
Chegamos de mãos dadas
para aprender, para curar,
para festejar o que ainda pode florescer.
Queremos água limpa correndo livre,
mata espessa que ofereça sombra,
sol brilhando sem medo,
raízes firmando troncos fortes
para que nosso pouso seja leve.
Que o conhecimento que aqui brotar
seja uma Vitória compartilhada,
onde todas as Conquistas enfim cheguem —
com justiça, com cuidado,
com futuro.
Pois a Terra é una,
lar comum; nosso destino
é o mesmo sopro
que atravessa todos nós.
Que as mãos que aqui se unem — entre risos e/ou lamentos —
superando fronteiras, pois a natureza é universal,
seja mais do que uma vitória.
Desse cantinho de brisa leve
e temperaturas mais amenas,
quem por aqui se aventura a andarilhar
vislumbra, no alto, o Cristo de Mário Cravo,
de braços abertos —
e descobre o propósito desta terra:
Vitória da Conquista é conquistar.