Spell mesclados
NA SOLEIRA DO TEMPO
Na soleira da vida, eu paro e vejo,
a luta que é ser gente, inteira e mansa,
entre o medo que aperta o coração,
e a esperança que brota na lembrança.
Aceitar-se é plantar no chão seco,
uma semente que insiste em florescer,
mesmo quando a solidão espanta o passo,
mesmo quando o peito quer esquecer.
Cada dia é um novo caminho aberto,
uma estrada que chama para andar,
e na simplicidade do gesto e da espera,
aprendo que viver é nunca parar.
Porque a vida é feita de recomeços,
e eu, mulher da terra, sei esperar.
{Luana Santahelena}
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Quanta tempestade cabe na calma
de quem busca o céu e se perde nas nuvens?
Quanto eco ressoa no vazio
de quem caminha entre sombras
procurando o próprio passo?
Quantos instantes escorrem entre os dedos
na espera de florescer —
e o perfume ainda distante?
Quanto frio envolve o peito
quando tentamos nos abrigar
nas cavernas da mente?
E mesmo se a brisa cantasse
a canção da liberdade,
talvez o coração não escutasse
o vento da mudança.
Mesmo que as estrelas brotassem do teu desejo,
teus olhos ainda tateariam a escuridão.
Mas há um ciclo que não se quebra —
onde cada amanhecer, ainda que lento,
ensina o que o tempo silencia.
Mesmo que falasse a língua dos rios e das montanhas,
nada valeria sem o toque do amor.
Mesmo que possuísse o voo dos ventos,
não haveria sentido sem saber planar sobre o instante.
A criação sussurra segredos na lua,
e o universo respira em silêncio, esperando ser ouvido.
No fim, restaria apenas o convite:
vem — sobe comigo.
Porque o nascer do sol é mais que luz no horizonte,
é o recomeço que se acende dentro de nós.
[Sezar Kosta]
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Mas direi eu:
será que viver é só esperar ou florescer?
Falamos da paciência e do recomeço,
mas e quando o chão parece seco demais para plantar?
as vezes queremos alçar vou e rasgar os céus
mas nem sempre sentimos a brisa,
nem alcançamos o sol que promete o amanhecer.
Talvez a vida não seja só recomeço,
mas momentos que nos mudam,
mesmo sem entender por quê.
A dor nem sempre ensina,
a alegria nem sempre vem completa,
e mesmo assim seguimos
errando, levantando, aprendendo.
O gesto simples ainda vale,
a esperança ainda é luz,
não como promessa,
mas como sinal de que podemos tentar.
O amor não cura tudo,
o tempo não resolve tudo,
mas nos ajudam enquanto buscamos sentido.
Viver é enfrentar a escuridão e a luz,
aceitar o medo,
celebrar o pequeno,
e saber que cada passo importa.
Ser gente talvez seja isso:
andar na escuridão, sentir a brisa quando der
errar, cair, levantar e continuar.
Cada amanhecer é um convite:
tentar de novo,
sem precisar de todas as respostas,
apenas seguir em frente.
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E quando o tempo parece demorar,
respiro fundo e deixo a vida ensinar.
Nem tudo precisa acontecer depressa,
tem coisa que só o silêncio endireça.
Aprendi que ser homem da terra
é lidar com o peso e a beleza do dia,
há horas em que a dor aperta forte,
mas também há paz quando vem a calmaria.
No fundo, tudo é parte da caminhada:
o erro, o acerto, a queda e a estrada.
E eu sigo — com o coração em fé e chão nos pés —
porque viver, afinal,
é recomeçar quantas vezes for preciso.
Melancolia*
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AQUI MESMO, MAS, DO OUTRO LADO
Na soleira do tempo do meu pensamento
Entre réstias de acasos e de juramentos
Está a certeza de que há limites pra tudo:
Quem se’entrega ao amor usa amor de escudo
O errar é humano se pra bem nós erramos
Sairemos felizes, se de fato, “amamos”
Quem por mau se entrega irá noutro lado
Descobrir que seu hoje dependeu do passado
Há portas estreitas, outras longas demais
Burlar tal caminho ninguém foi capaz
Quem tanto almejou teve a grata surpresa
De ver doutro lado o futuro embrulhado
Recebendo o presente em ‘saco furado’
Onde o amor renegado seria sua riqueza
(elfrans silva)
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Na soleira do tempo
A memória lembra
Cada pequeno momento,
Cada pequeno sentimento.
Quase tangível… é surreal!
E chego a questionar: como foi que esqueci?
Talvez foi assim que cheguei aqui,
Nessa fronteira...
Talvez foi assim que te perdi,
Tu e minhas maneiras...
Talvez foi assim que nunca consegui
Abrir aquela porta.
Mas, agora, já não há volta para:
Corações quebrados que nunca sararam,
Verdades que nunca foram ditas,
Certezas que a alma nunca teve,
Nem coragem para confiar em nada.
(PoetadeMarte)
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Eu já cansei, sim.
De vez em quando, o corpo dói e o coração quer sossego.
Mas a vida não é feita pra parar — é feita pra ir indo, devagarinho,
igual rio que não sabe ficar quieto.
Aprendi com a terra que tudo tem seu tempo.
Tem hora de semear, tem hora de esperar,
e tem hora de ver o verde brotar, mesmo sem ter certeza de nada.
Sou mulher da estrada e da enxada.
Já plantei em chão duro,
já chorei sobre o barro rachado,
mas nunca deixei de acreditar na semente.
Porque o tempo, esse velho sábio,
traz de volta o que a gente pensou ter perdido.
E é bonito ver: a flor nascendo de novo,
bem ali onde o cansaço morava.
Recomeçar, meu bem,
é coisa de quem confia no amanhecer.
Mesmo cansada, sigo —
com fé no vento, e esperança nas mãos.
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Às vezes paro —
na beira invisível do tempo —
onde o vento da memória
me sopra o nome do que fui.
Ser homem é caminhar entre abismos:
um medo que aperta o peito,
uma esperança que não se cala.
Sou a distância entre o que perdi
e o que ainda me chama.
Aprendi que aceitar-se
é lavrar o próprio deserto,
fazer do pó uma promessa,
fingir que não dói
enquanto o sonho germina devagar.
Há dias em que o silêncio é casa,
outros, é cansaço.
Mas sigo —
porque o chão, mesmo árido,
reconhece meus passos.
Cada manhã me devolve um começo:
a estrada me convida,
a vida me tenta,
e eu vou, sem pressa,
entre o peso e a poesia de existir.
No fundo, viver é isso:
errar o caminho,
reaprender o sol,
e continuar.
Porque a vida,
essa velha professora de paciências,
me ensinou que tudo recomeça —
inclusive eu.