Luana Santahelena

Morada do Desejo no Amor

Ver você atravessar a sala

é assistir meu desejo ganhando forma,

não mais faísca,

mas chama que aprendeu a ser casa,

deitar-se comigo cada noite,

acordar em você,

morada e abrigo.

 

Toco sua pele —

cada vez, um início:

conheço seus atalhos

e, mesmo assim, me perco no caminho,

como quem volta ao lar

e sempre encontra novidade no mesmo lugar.

 

Fazer amor com você

é me ouvir no fundo do peito,

é reconhecer, no silêncio,

tudo que não ouso dizer:

seu corpo é mapa e travessia,

repouso e travessura,

onde descanso minha inteireza.

 

Quando me toca,

não preciso linguagem,

você sabe a hora de ser brisa,

e quando me lançar

ao abismo cálido do seu abraço,

como se sempre me esperasse ali.

 

Amo você sem posse,

com presença inteira —

o olhar limpo,

a ausência de máscaras,

o convite mudo para ser quem sou.

 

Estranho,

mas ao fazer amor com você

reencontro fragmentos do que perdi de mim,

e entendo:

sua pele é território

onde minha paz se deita.

 

Mesmo no silêncio comprido,

um chamado pulsa, manso,

sem urgência,

só presença.

 

Você me conhece no escuro,

atravessa meus atalhos devagar,

e eu amo você —

não só com o corpo,

mas com o desejo calmo

de quem enfim fez do outro

também sua morada.