Sezar Kosta

ONDE A LUZ DO AMOR APRENDEU O CAMINHO

Lembro-me do dia em que percebi

que o brilho entre nós não vinha do riso fácil,

nem dos gestos leves que encantam quem passa.

Vinha do que sustentávamos em silêncio —

como quem segura uma porta aberta durante a tempestade

para que o outro encontre abrigo.

 

Não foi uma revelação súbita,

daquelas que chegam como trovão.

Foi coisa lenta, paciente,

crescida na dobra dos dias,

entre a cozinha desarrumada

e o suspiro cansado depois do trabalho.

 

Havia algo nos teus olhos

que não prometia felicidade,

mas oferecia presença.

E presença, descobri,

tem a força discreta de uma fogueira antiga:

não explode,

mas aquece tudo a sua volta.

 

Foi ali, nesse cotidiano sem medalhas,

que entendi o que os poetas sempre tentaram dizer

e o que os sábios nunca ousaram completar.

Amar não era procurar céu —

era plantar chão.

Era regar, aparar, recompor, recomeçar.

Era ficar.

Mesmo nos dias em que nenhum de nós

sabia muito bem como se faz isso.

 

E quando ficamos,

o mundo começou a repousar um pouco sobre nós.

Havia ternura na forma como você me entregava o seu silêncio,

e havia paz na maneira como eu aprendia a escutá-lo.

Sem exigências.

Sem promessas.

Apenas o reconhecimento de que algo verdadeiro

precisa ser cuidado com as duas mãos.

 

Hoje, quando olho para trás,

entendo que a alegria que em nós habita

não nasceu para ser perseguida.

Ela brotou sozinha,

como erva teimosa entre rachaduras,

porque, sem perceber,

aprendemos a sustentar um ao outro

nos lugares onde antes só havia cansaço.

 

E se existe alguma luz no meu peito agora,

é porque você me ensinou,

sem palavra alguma,

que o amor mais forte

não é aquele que busca unicamente ser feliz —

e sim aquele que aprende a ser farol.