Marujo

Confessionário

 Sento-me no meu confessionário,
longe do mundo em que finjo viver.
Águo as tulipas do meu santuário
enquanto uma criança aprende a morrer,
outra a explodir,
outras a sofrer,
e nenhuma pode dizer onde dói mais.

 

 Leio um bom livro — filosofia, ficção —
e durmo tranquilo sob a graça de Deus.
Quando preciso, entrego ao diabo o perdão.
O mundo nasceu igual, os filhos são todos Seus,
até mesmo os que vejo matar,
roubar de quem não tem nada,
brincar com sangue e ossos
sem jamais poder dizer que foram culpados da sorte.

 

 E quando Ele voltar, cavalo branco, juiz,
mirará meu rosto súplice:
“Qual foi teu crime, padre? Dize!”
  E eu direi, sem força que me assista:

 

 “Cúmplice.”