Vênus Não Terra

Sou minha casa

E hoje ela escreve —

porque quando escreve, a voz dela não treme,

se expande.

E alguém a escuta.

Até ela mesma.

 

Eu bato um retrato.

Flash.

Congelo o instante.

Guardo como quem salva um tesouro

que não quer perder de novo.

 

E quando o mundo tentar me roubar de mim,

eu volto lá.

Eu volto naquele segundo em que entendi —

naquele segundo em que respirei fundo

e me reconheci.

 

Porque é disso que eu falo

quando escrevo:

do momento em que a alma desfaz os nós,

em que o peito não pede licença,

em que tudo que estava preso

finalmente se solta.

 

Escrevo sobre libertar.

Escrevo para lembrar.

Escrevo porque sou minha casa.

E toda vez que me perco,

é aqui que eu volto.