Tarsilla
SOMENTE A MIM
Preciso de um espírito maior do que o meu
Esse que tenho pesado demais enfraqueceu
Estou até agora fazendo a difícil função de sobreviver
Admito, não está nada fácil
Talvez eu tenha perdido a mão de ser maior
E então me perceba fraca
Pensei que tinha a função de curar
Mas adoeci, dentro de mim
Eu faço isso, vez ou outra me firo
Não preciso de nenhuma referência
Nada demais, apenas sentir
Como que faz para tirar um pensamento que volta e meia martela na cabeça?
Estou em uma fase, da qual eu não consigo olhar para mim
Na fase na qual eu, eu infinitamente eu, não me encaixo
Presa demais, em um mundo todo moral.
Socorro
Por que sempre essa dinâmica triste da vida
Sempre os sonhos entre as impossibilidades, fantasias.
De todo mal, eu acreditei no que estava próximo
E ultimamente nada depende só de mim.
Isso de toda forma, me deixa irada.
Estou irada.
Nasci na condição de ser sozinha, não a solidão que todos carregam
Uma solidão triste, de não ter nada e nem ninguém com quem estenda a mão, por amor.
A solidão de ser só.
Só eu comigo.
Não posso acreditar em mais ninguém, justamente no amor
Mentiras são contadas e eu as aceito, porque era o que eu queria
Mas agora sempre em quantidade menor, com mais consciência
Percebo que eu amo esse pequeno corte que a solidão faz
Separando-me de tudo.
Preciso escrever, porque quero gritar e como sempre
De todas as loucuras, ultimamente, prefiro a mais calma
A mais contida, cansei de chamar atenção
Sobre a minha solidão, ando de mãos dadas
Somente eu e ela, sem palco, sem platéia
Sem ninguém.
Então como faço para enfrentar tal desamor?
Ainda não sei separar o que há dentro de mim com o mundo lá fora
Eu baixinho canto tão só, a mim mesma
Guardo essa minha triste sina, entre as goladas de uma água que tem o gosto somente meu
Deus me apresentou alegrias, nunca soube manter alegrias dentro de mim
Sempre afasto com dor, me mantendo sozinha
Acho que me isolo, talvez essa tenha sido a grande questão
Eu sabotando a mim
Oh, grande desgraça!
Talvez seja exagero!
Eu aceito e não, essa condição
Estar só é uma dádiva e também um presente
Um fardo, mas sempre com grandes ensinamentos
Ainda não peguei a grande questão dessa fase
Pelo visto ser forte me enfraqueceu muito
Estou perdendo a mão
Na grande historia do mundo, eu sei que estava lá
Participei em vida e logo depois morri
Desde então não consigo ser a mesma
Aprendi a ser só, depois do que me ocorreu
Então nessa vida, nasci eu mesma
Sem mãe, nem pai. Sozinha
Nessa vida, cresci sozinha e aprendi a olhar com graça para a solidão
Talvez essa seja a melhor parte,
Nem sei por que escrevo tanto sobre coisas que me deixam tão puta
Eu fico puta quando não alcanço nem a mim nessa vida
Tudo bem não ter ninguém, mas não permito me perder
Ter a mim é grandioso demais, preciso alcançar tantas pontas soltas
Logo após perco algumas, mas é um trabalho que me faz bem
Não quero soltar de vez esses meus pedaços
Não podem nem mesmo imaginar não me conhecer mais.
E mais uma vez estou triste, minha fala triste
O meu rosto triste, minha alma grita e sim, também triste
Os dias passam e eu continuo triste,
Às vezes encaro-me sobre o olhar do outro e não, não estou triste.
Talvez eu tenha que encarar com um olhar mais frio para as coisas
De certa forma essa minha sensibilidade para a dor, anda vez ou outra me mostrando o quanto o outro lado é gostoso.
Andei notando também, os meus rituais. Sobre a nuvem que atravessa a minha cabeça alinhando sobre as perspectivas agradáveis: esse entra! Esse não! É assim que eu mesma escolho a mim todas as vezes e nunca permito mais ninguém.