Hoje eu chorei —
não por fraqueza,
mas porque meu corpo cansou de guardar silêncios.
Amanhã eu sorrio,
porque toda dor, quando aceita,
abre espaço para alguma luz.
Hoje ficaram as boas e as más lembranças,
misturadas como sempre estiveram,
mas eu te deixo ir,
porque finalmente entendi
que não é minha função carregar o que não volta.
Hoje sou livre — livre de mim,
das partes que escondi por medo,
das respostas que evitei,
daquilo que finjo não ver.
E por isso, hoje, eu posso ser mais feliz.
Está chovendo.
E o cheiro da chuva acalma,
como se o mundo respirasse junto comigo.
Ainda imagino onde andarás,
mas não te procuro —
há caminhos que não merecem repetição.
Hoje penso em mim,
nesta parte esquecida,
posta sempre no fim da fila.
Sou linda —
e não é a pele ou o rosto que dizem isso.
É o que insisto em ser,
mesmo quando ninguém vê.
Não escolhi meu nome,
mas agora eu me escolho.
Acolho minhas dores,
afasto o que me fere,
me dou colo.
Eu sou meu próprio tesouro.
Não dependo de ninguém.
Sou forte — e não por obrigação,
mas porque me reconstruo.
Sou porto — e ainda assim, barco.
E me levanto quantas vezes forem precisas.
Não escolhi minha mãe
nem a família que o mundo me deu.
Mas eu sou minha família,
inteira, mesmo quando partida.
Hoje eu sonho.
Sonho alguém como eu,
um coração vizinho, firme e calmo,
para dividir o peso e o sol
dos próximos verões.
Quero ser feliz —
sozinha.
Quero ser feliz —
em dobro.
Quero multiplicar —
mas só o que faz sentido.
E eu já sou.
A partir de hoje.