Te dei a chance de entrar no território onde quase ninguém pisa,
onde meu coração fala alto e minha alma se avisa.
Te ofereci o brilho dos meus dias, o silêncio das minhas noites,
meus gestos pequenos, minhas palavras raras, tudo em tons de ouro.
Entre tantos caminhos, tantos rostos que a vida coloca na minha frente,
eu escolhi você… assim, no impulso quente,
como quem colhe uma flor que ainda nem desabrochou,
acreditando que o perfume viria depois.
Mas você era nebuloso, indeciso, vento que não cria morada,
e eu, na minha intensidade tão humana, te confundi com alvorada.
Esperei clareza de quem só sabia me dar sombra,
e cansei de regar um jardim que você deixava sempre à míngua.
Hoje eu me despeço com calma, sem grito, sem mágoa torta
apenas fecho a porta que você nunca soube atravessar.
Entendi que o meu interesse imenso não era sobre você,
mas sobre a vontade de ser vista por alguém que nunca soube olhar.
E eu sigo.
Porque ainda virão presenças inteiras,
olhares que não tremem, mãos que não hesitam,
gente que entende meu valor sem precisar que eu me explique.