Luana Santahelena

Manual Poético para Sobreviver ao Amor (e Rir Depois)

Alguém deveria criar uma lei contra relacionamentos

que deixam Estresse Pós-Romântico —

desses que entram pela porta da sala

como quem visita um museu

e saem levando o sofá, a paz

e metade das certezas que eu cultivava

no meu vaso de porcelana emocional.

 

E eu, que nem gosto de jardinagem,

fico ali regando a semente da tristeza,

achando — veja só —

que talvez brote um pé de Eu Te Amo,

como se o universo fosse tão obediente

quanto as instruções de um buquê comprado na pressa.

(Ele não é. Nem um pouco.)

 

A verdade é que o coração também faz piada:

gosta de misturar tragédia com esperança,

dor com expectativa,

e ainda me pede pra rir

enquanto remenda os próprios cacos

com fita adesiva e um pouco de café.

 

No fundo, sei que a culpa nunca é da música triste:

é minha mania de dar play.

Então hoje troco a lágrima pela risada,

porque o melhor vingador da minha autoestima

não é a memória do que doeu —

é o meu bom humor, esse rebelde suave

que insiste em aparecer descalço

a cada vez que a vida tenta me colocar salto alto.

 

Coloco o som no último volume,

danço o meu valor sem pedir licença,

e faço um brinde à porta fechada —

não em homenagem ao que se foi,

mas ao espaço que fica,

livre, respirável, luminoso,

pronto para o inesperado

(e, quem sabe, para um sofá novo).

 

Menos drama, sim.

Mais champagne — sempre.