Luana Santahelena

Chamada Perdida para o Passado

Quando lembro das minhas decisões antigas,

tenho vontade de ligar pro eu do passado e pedir explicações.

Mas o número mudou,

ou talvez tenha sido eu

que troquei de operadora existencial.

 

A voz da atendente — automática e calma —

me diz: “essa versão de você não está mais disponível.”

E fico ali, ouvindo o bip infinito,

como quem espera resposta de um fantasma

que ainda pago as contas das suas escolhas.

 

Penso na menina que escolheu o caminho errado,

com a coragem certa —

ou seria o contrário?

Ela sempre gostou de se perder

como quem ensaia uma descoberta.

 

Às vezes imagino que ela me ouve

entre um silêncio e outro da vida,

mastigando arrependimentos como balas de hortelã,

dizendo: “Calma, querida,

fiz o melhor que sabia — e olha que nem sabia tanto.”

 

E eu rio.

Porque talvez o sentido seja esse:

rir do próprio mapa,

das setas desenhadas com lápis de esperança,

dos atalhos que davam em espelhos.

 

No fim, desligo.

Mas deixo recado na caixa postal:

“Obrigada, eu antiga,

por errar com tanta sinceridade.”

 

E sigo,

com o telefone do destino no modo silencioso,

esperando, quem sabe,

que o futuro ela me retorne a ligação.