Quando lembro das minhas decisões antigas,
tenho vontade de ligar pro eu do passado e pedir explicações.
Mas o número mudou,
ou talvez tenha sido eu
que troquei de operadora existencial.
A voz da atendente — automática e calma —
me diz: “essa versão de você não está mais disponível.”
E fico ali, ouvindo o bip infinito,
como quem espera resposta de um fantasma
que ainda pago as contas das suas escolhas.
Penso na menina que escolheu o caminho errado,
com a coragem certa —
ou seria o contrário?
Ela sempre gostou de se perder
como quem ensaia uma descoberta.
Às vezes imagino que ela me ouve
entre um silêncio e outro da vida,
mastigando arrependimentos como balas de hortelã,
dizendo: “Calma, querida,
fiz o melhor que sabia — e olha que nem sabia tanto.”
E eu rio.
Porque talvez o sentido seja esse:
rir do próprio mapa,
das setas desenhadas com lápis de esperança,
dos atalhos que davam em espelhos.
No fim, desligo.
Mas deixo recado na caixa postal:
“Obrigada, eu antiga,
por errar com tanta sinceridade.”
E sigo,
com o telefone do destino no modo silencioso,
esperando, quem sabe,
que o futuro ela me retorne a ligação.