Arthur Santos

UM DIA FUI A UMA FEIRA

UM DIA FUI A UMA FEIRA

 

MOTE

um dia fui a uma feira,

não sei como aquilo foi,

comprei uma vaca leiteira,

cheguei a casa era um boi.

 

GLOSA

andava eu por aí a calcorrear,

umas vezes a correr outras a andar,

por estradas e caminhos de terra,

de monte em monte, de serra em serra,

sozinho e às vezes acompanhado

sem nunca me sentir cansado,

à descoberta do desconhecido.

em mim não entrava canseira.

qual caminheiro destemido,

um dia fui a uma feira.

 

vi lá milhares de bugigangas,

cuecas, soutiens, casacos sem mangas,

martelos, alicates, limas,

coisas baratas e coisas caríssimas,

sapatos, pantufas e chinelos

pretos, azuis, verdes, e amarelos,

chouriços, linguiças, e couratos de lei.

tudo devorei que nem um herói

e até ao trincar me engasguei.

não sei como aquilo foi.

 

mas nesta história não vos minto.

lá tive que emborcar um carrascão tinto,

essa bebida gostosamente santa,

para aliviar a pobre garganta.

já aliviado, segui a minha visita.

deparei-me com uma bela senhorita

que vendia animais de quinta

e também aves de capoeira.

porque a senhora tinha boa pinta,

comprei uma vaca leiteira.

 

assim fiquei como fornecedor

de leite directamente do produtor,

sem precisar de ir ao supermercado,

comprar leite falsificado.

saí da feira todo contente.

fiz melhor negócio que toda a gente.

nunca tinha sido na vida burlado

mas nesta malfadada feira é que foi,

não comprei nada uma vaca, fui enganado...

cheguei a casa era um boi.