G. Mirabeau

Dia de Pangéia

Hoje,

Quero beber até me sentir

Completamente sóbrio.

Cair na sarjeta

- Da lucidez!

Gritar, cantar...

Expor minha timidez!

 

Hoje, afinal,

Desejo todo o mal

Que possa sorver;

Todo bem

Capaz de subverter...

 

Hoje será um único dia real!...

Milímetro que se consegue

Ter-se inteiro e total

- Em tantos megaparsecs!...

 

Hoje exporei

Meu desejo de ser rei.

Hoje jurei

Não esconder

Minha ânsia de poder;

Vou confessar

O medo de lutar,

Vou entender

O medo de perder...

 

Lançar-lhes-ei ao rosto

Toda a inveja,

Todo o desgosto

Da minha velha covardia;

Da oportunística filosofia

Do egoísmo, da prepotência;

Dos meus negócios com a consciência!...

 

Autocomiserávelmente,

Entender-me-ei nas derrotas,

Concedendo-me novas portas

A provar

Ser o melhor,

Apesar...

 

Hoje estarei vivo.

Serei primitivo,

Serei a verdade,

Serei crueldade,

Tudo que quiser!...

Mesmo não queira...

 

Serei uma ilha.

Serei Pangéia.

A maravilha

Da alcatéia...

 

Em qualquer antro

Serei um santo,

Serei José

De Arimatéia...

 

Um ser humilde,

Um viver sofrente,

Meu próprio Deus

- E me farei gente!

 

E me sentirei

Apenas bom e real,

E poderei, afinal,

Ser livremente mau...