O casamento, muitas vezes, nasce do encontro luminoso de duas almas que acreditam ter encontrado um refúgio. A promessa é simples e profunda: partilhar a vida, os sonhos, as dores e as vitórias. No entanto, o tempo, com sua paciência implacável, vai revelando que o amor não é apenas feito de promessas, mas de escolhas diárias.
A infelicidade dos casais dentro do casamento não costuma surgir de repente, como um vendaval. Ela nasce aos poucos, nas pequenas indiferenças, nos silêncios mal interpretados, na pressa cotidiana que rouba a ternura do olhar. O “nós” que um dia parecia eterno começa a se desfazer em dois “eus” isolados, vivendo sob o mesmo teto, mas em mundos diferentes.
O filósofo poderia dizer que isso ocorre porque o ser humano busca no outro a completude que não encontra em si mesmo. Mas quando descobre que o outro também é incompleto, frágil e cheio de limites, vem a frustração. Esperava-se que o amor fosse um remédio absoluto, mas o casamento mostra que ele é, na verdade, um exercício de paciência, renúncia e compreensão mútua.
Há casais que permanecem juntos, mesmo infelizes, por medo da solidão, pela obrigação social ou pelo peso dos filhos. Outros se perdem porque confundem amor com hábito, e não percebem que a rotina pode ser ao mesmo tempo veneno e remédio. É como se o casamento revelasse uma verdade dura: amar não é apenas sentir, é também sustentar — e muitos não suportam o peso dessa sustentação.
Talvez a maior reflexão seja esta: a infelicidade dentro do casamento não significa que o amor nunca existiu, mas que, em algum momento, deixou de ser cuidado. Como uma planta sem água, ele vai murchando até sobrar apenas a sombra do que foi.
E assim, os casais infelizes vivem um paradoxo: permanecem juntos, mas separados; dividem a casa, mas não dividem mais o coração. O filósofo diria que essa é a tragédia silenciosa de dois seres que, ao não se escutarem, descobrem que o amor pode morrer não com um grito, mas com o silêncio.