Carlos Lucena

ENVELHECIMENTO

ENVELHECIMENTO

Minhas mãos estão trêmulas e enrugadas
Porque o tempo me fez assim
As minhas pernas indecisas não alcançam mais todas estradas
E incontidas rugas são que ficaram em mim.

Olhos que ao longe não vão mais
E o mundo seu eco
Não está em meus ouvidos
o meu corpo  a outro corpo não satisfaz
Pois a dor se revela agora em meus gemidos

Guardo e carrego no depósito da memória 
Aquilo que em
Mim não mais se vê 
Porque por fora apagou-se a história 
Mesmo que por dentro  ela esteja
E que  ninguém queira saber.

De tal modo, que sou carne machucada
Sou espírito tirado o contentamento
Sou a alma caminhante de uma estrada 
E um corpo velho só com a sobrepeliz revestindo o sentimento.

Não me dão nada 
E não sirvo para nada também 
Nem as leis me dão uma palavra sonhada
Se não me coloca nos seus artigos
Também não me faz o bem.

Não percebem que ainda guardo sentimento
E que ainda carrego a humana sabedoria
Mas a dor do envelhecimento 
Tirou-me a humana carne 
Porém não me tirou a poesia.