Ó tu, de longas eflúvias sombrias,
Que em cascata de noite o ombro envolve,
Teu olhar — brasa em penumbra, alquimias —
Feitiço acende e minha alma dissolve.
Teus seios, duplas colinas de alvura serena,
Onde a luz repousa em suspiro e oração,
Guardam perfume de aurora, doce e plena,
Onde minha boca busca consagração.
Entre eles, o ar se faz prece e delírio,
E o tempo suspira, rendido ao instante;
Ali, o desejo se torna martírio,
E o prazer, um verso pulsante.
A túnica carmesim, véu que mal resiste,
Esconde o templo de tua forma sagrada;
Por entre o tecido, a volúpia persiste,
Como chama que nunca é domada.
Na Flor Branca — segredo de pétala pura —,
Onde o Éden murmura em alvura e paz,
Minha fronte repousa, em doce clausura,
Como quem encontra o altar que o refaz.
És taça plena, licor que enfeitiça,
Doce pecado que ensina a rezar;
Por teu corpo, a alma se inicia
No rito que o amor sabe eternizar.