Eu tento escapar da realidade criando mundos que não existem.
Mundos em que eu controlo o tempo, em que não erro, em que ninguém me olha.
Mas esses mundos se dissolvem rápido, como fumaça.
Não duram mais do que alguns minutos.
A música já não é refúgio, é barulho constante.
Ela não me tira daqui, ela só acompanha o ritmo da minha mente bagunçada.
Está sempre tocando, mesmo quando o fone não está no ouvido.
Eu abro a geladeira sem fome alguma.
Mordo os dedos até sangrar.
Troco de posição na cama, balanço as pernas, tento inventar distrações.
Nada funciona.
A cabeça não para.
A cabeça nunca para, e nunca parou.
Ela repete, sem pausa, que sou incompetente.
Que não vou conseguir.
Que não adianta tentar.
É uma tortura contínua, sem intervalos.
Não é medo de morrer.
É o cansaço de viver assim.