Ser é ferida aberta —
um respirar que dói devagar.
A alma, invisível,
vai talhando o corpo.
Talvez a dor não seja castigo,
mas idioma —
a forma que o ser encontrou
pra dizer: “ainda estou aqui.”
O céu parece mudo,
e ainda assim responde —
com o vento que passa,
com o nada que fica.
Deus às vezes some,
não porque partiu,
mas porque o coração humano
precisa aprender a escutar o invisível.
Talvez Deus não fale,
porque o verbo já está em tudo
E assim seguimos,
entre o invisível que nos cria
e o tudo que nos consome,
fiéis ao fado
de existir —
essa tortura silenciosa,
esse milagre imperfeito.
Chamamos isso de vida,
mas é só o espanto
de existir entre dois abismos:
o do que sentimos
e o do que jamais saberemos nomear.
Há um rumor de eternidade
no vazio que Ele deixa.
Não é o som da Sua voz,
mas o eco do que não diz.