Oréon

Passou

Hoje o ônibus passou. Me distraí mais do que devia. Vivi além do que fora permitido. E por isso o ônibus passou. Eu corri, me adiantei, cheguei a tempo apenas de vê-lo ir. Tempo, que me persegue. A cada atraso, falta e ausência, é calculada pelo relógio traiçoeiro que brinca no parquinho de pêndulo. Para lá e para cá. Mas não importa, o ônibus passou. Se eu tivesse voltado à minha realidade que necessita de atenção constante, eu estaria a caminho. Mas o que me deixa o gosto amargo é saber que talvez o Ônibus não tenha passado, eu não tenha atrasado ou adiantado. Desde quando eu aposto corrida com o alarme? Desde quando eu vivo da urgência? Me condicionaram ao alarde. Não há tempo para brincar! Sem tempo para se distrair! Mas por quê? Há tempo então para o quê? Meu ônibus passou e eu aqui ainda estou. Não morri e não morrei! Será que é mesmo o tempo, senhor, ou apenas uma ferramenta para manter na dor? Me tiraram da biologia e me colocaram na cronologia. Não sou mais o ser ilimitado, pois agora fui condicionado e condenado a sempre ser atrasado!

 

O sistema economico entende o ser humano com um robô biônico