Às vezes fecho os olhos
não pra descansar,
mas pra esquecer que ainda estou aqui.
o silêncio me abraça,
frio, denso, quase cruel —
e por um instante, eu deixo de sentir.
Há dias em que o corpo pesa demais,
como se cada lembrança
fosse uma pedra presa à alma.
eu respiro, mas o ar não entra.
tudo parece longe,
até eu mesma.
Dizem que fugir é covardia.
mas e quando ficar dói mais?
quando o mundo parece apertado demais
pra caber dentro de mim?
Lá — no outro lado —
talvez eu exista sem medo,
sem essa ânsia de desaparecer.
talvez lá eu seja alguém
que não precise se esconder pra ser feliz.
Se um dia eu conseguir atravessar,
não deixarei rastros.
porque o que restar de mim aqui
já não será vivo —
apenas o eco de quem sonhou
encontrar paz em outro céu.