EU QUERO SER UM POEMA
Poema escrito no dia 5 de Novembro de 2025, eram 10h35min
hoje acordei a desejar
ser um verso.
ainda meio acordado meio a dormir
a sonhar com heróicas conquistas,
achei melhor ser dois versos,
um dueto sempre dá mais nas vistas.
abri um olho e pensei melhor,
afinal não quero ser um dueto,
quero ser um terceto,
sim isso mesmo, um terceto,
três versos bem juntinhos,
bem alinhadinhos.
entretanto abri os dois olhos,
olhei à minha volta
e perguntei-me estremunhado:
eu quero ser um terceto?
é claro que não quero
ser um simples terceto
e não há nada que me impeça
que parvoíce é essa?
o que eu quero, é ser uma quadra,
isso mesmo, uma quadra,
uma redondilha maior
ou uma redondilha menor, tanto faz
mas uma bela quadra,
isso vou ser capaz.
já mais acordado pensei:
porquê só uma quadra?
tenho outra proposta,
uma coisa mais composta,
quero criar novos universos,
vou misturar duas quadras
com dois tercetos, catorze versos,
porque quero ser um soneto,
isso mesmo, um soneto,
um soneto merece mais respeito,
agora sim estou satisfeito.
eu disse que estou satisfeito?
não, não estou satisfeito,
um soneto não chega,
quero ser ...
quero ser uma estrofe de cinco versos
de seis, sete, oito, nove, dez
e andar a mostrar-me pelos cabarés
e tratarem-me por nomes estranhos:
quintilha, Sextilha, Setilha, Oitava, Nona Décima,
nomes de todos os tamanhos...
pensando melhor, não quero nada disso,
não quero ser obediente nem submisso.
o que eu quero,
é ser um poema livre de amarras,
sem métricas, sem metáforas, sem rimas,
quero mostrar as minhas garras,
as minhas ideias legítimas,
furar grades, algemas e brumas
sem obedecer a regras nenhumas...
tenho dito!