Arthur Mello Noos

O palhaço

O Palhaço
Nasce um menino chorão em um dia de inverno chuvoso.
Desde cedo, não via alegria no mundo.
Brincava, mas sua mente dançava com pensamentos adultos e filosóficos.
Não entendia a razão da maldade, da cobiça ou da mentira.
Cresceu entre dificuldades e pouca saúde, cercado por irmãos e carências.
Na adolescência, percebeu que os infortúnios de sua vida não cessariam.
Cansado de chorar, decidiu rir.
Tornou-se o centro das rodas de amigos, o que fazia todos sorrirem muitas vezes de seus infortúnios.
Quando eles riam, o menino chorão sentia-se melhor.
Ajudava a quem o procurava — quem chegava triste, saía sorrindo.
Mas mesmo entre risos, ele continuava vazio. Suas lágrimas haviam secado.

Já na meia-idade, convencido de que nascera para sofrer, resolveu desistir.
Amarrando uma corda na viga, sentiu o aperto firme em torno do pescoço.
Nos últimos instantes, percebeu que não havia mais volta.
E, no rosto machucado pelo mundo, surgiu — enfim — um sorriso verdadeiro.
Porém, inevitável foi uma última lágrima, que brotou ao abandonar este mundo.

 

Guacimar Mello