Sayuri

O peso de existir

Às vezes, acordo cansada antes mesmo de abrir os olhos.
o sol bate na janela, mas parece zombar de mim,
como se dissesse: “lá vem mais um dia igual.”
e eu só queria ficar quieta,
sumir no silêncio do quarto,
onde ninguém espera nada de mim.

Me olho no espelho e não reconheço quem está ali.
meu rosto é o mesmo, mas vazio —
como se alguém tivesse apagado tudo o que um dia brilhou.
meus olhos carregam histórias que nunca contei,
medos que ninguém percebe,
lágrimas que secaram de tanto esconder.

Dizem que o tempo cura,
mas o tempo só passa, arrastando tudo junto —
as horas, os sonhos, as vontades.
e quando chega meu aniversário,
em vez de alegria, sinto um nó na garganta.
não quero parabéns.
não quero lembrar que continuo aqui,
que sobrevivi a mais um ano que não pedi.

Há dias em que sorrio, por educação,
mas por dentro grito.
um grito que ninguém ouve,
porque aprendi a falar baixo,
a dizer “tá tudo bem” mesmo quando o peito sangra.

Eu me pergunto se alguém notaria
se eu deixasse de existir.
se alguém realmente sente minha falta,
ou se sou só mais um nome que passa rápido demais
na memória dos outros.

E no meio disso tudo,
carrego uma vontade imensa de ser leve,
de respirar sem doer,
de não sentir culpa por querer parar um pouco.

Não sei o que me prende — talvez um fio invisível,
talvez o desejo tolo de acreditar
que um dia alguém vai olhar pra mim e dizer:
“eu te entendo, fica. o mundo é pesado, mas você não está sozinha.”