eu vejo arte no feio, nas manchas do muro,
nos becos, nos pixos, no brilho impuro,
nostalgia me segue, é meu costume,
até o dia nublado tem um toque de perfume.
a família passando me arranca um sorriso,
“que família bonita”, penso sem juízo,
é no simples que eu vejo sentido,
no caos urbano, eu me sinto vivo.
amo os bichos mais que o próprio ser,
sofro o que eles sofrem, sem esconder,
penso no moleque do farol com a mãe cansada,
e meu peito aperta, minha alma parada.
vejo o povo na rua, admiro o detalhe,
o piercing brilhando, o estilo que espalha,
cada um carrega uma história em si,
e eu só observo, vivendo daqui.
no busão, o fone e o hip hop girando,
a cidade passando, eu viajando,
a brisa vem leve, a mente reflete,
meu mundo é barulho e calma que compete.
às vezes bebo pra esquecer quem sou,
intensa demais, o coração transbordou,
tento guardar sentimento num copo pequeno,
mas o que é verdadeiro nunca fica pleno.
penso na minha família, em ser o melhor,
em ser o pior pra alcançar o maior,
entre sonho e erro, sigo no trilho,
com medo do mundo e amor nos cílios.
e quando penso nele, o tempo desacerta,
quero o toque, o riso, a alma aberta,
mas mesmo querendo, mantenho o compasso,
porque amar demais também é embaraço.
meu coração é mole, mas não é vão,
eu sentir demais é minha maldição,
se eu pudesse, tirava o peito do peito,
pra sofrer no lugar de quem não tem jeito.
dos bichos, dos tristes, dos sem direção,
porque sentir por eles ainda é minha missão,
se for pra doer, que doa em mim,
mas que o resto do mundo respire enfim.