Gi.

Visão da vida.

eu vejo arte no feio, nas manchas do muro,

nos becos, nos pixos, no brilho impuro,

nostalgia me segue, é meu costume,

até o dia nublado tem um toque de perfume.

 

a família passando me arranca um sorriso,

“que família bonita”, penso sem juízo,

é no simples que eu vejo sentido,

no caos urbano, eu me sinto vivo.

 

amo os bichos mais que o próprio ser,

sofro o que eles sofrem, sem esconder,

penso no moleque do farol com a mãe cansada,

e meu peito aperta, minha alma parada.

 

vejo o povo na rua, admiro o detalhe,

o piercing brilhando, o estilo que espalha,

cada um carrega uma história em si,

e eu só observo, vivendo daqui.

 

no busão, o fone e o hip hop girando,

a cidade passando, eu viajando,

a brisa vem leve, a mente reflete,

meu mundo é barulho e calma que compete.

 

às vezes bebo pra esquecer quem sou,

intensa demais, o coração transbordou,

tento guardar sentimento num copo pequeno,

mas o que é verdadeiro nunca fica pleno.

 

penso na minha família, em ser o melhor,

em ser o pior pra alcançar o maior,

entre sonho e erro, sigo no trilho,

com medo do mundo e amor nos cílios.

 

e quando penso nele, o tempo desacerta,

quero o toque, o riso, a alma aberta,

mas mesmo querendo, mantenho o compasso,

porque amar demais também é embaraço.

 

meu coração é mole, mas não é vão,

eu sentir demais é minha maldição,

se eu pudesse, tirava o peito do peito,

pra sofrer no lugar de quem não tem jeito.

 

dos bichos, dos tristes, dos sem direção,

porque sentir por eles ainda é minha missão,

se for pra doer, que doa em mim,

mas que o resto do mundo respire enfim.