Minha Caixa de Pandora

EssĂȘncia

As luzes já dançam nas ruas,

e nelas o reflexo apressado

de quem corre sem ver —

sem se ver.

 

Vivemos no raso,

na pressa que dissolve o sentir,

na entrega que dura um clique,

no abraço que não chega a aquecer.

 

É tudo tão líquido…

Os sonhos evaporam,

as promessas escorrem pelos dedos,

o amor — às vezes — vira notificação não lida.

 

Mas a vida, em silêncio,

segue nos chamando:

parar.

Respirar.

Lembrar o que não se compra.

 

Entre uma esquina e outra,

há um instante esquecido —

um sinal de que a essência

ainda habita o simples.

 

E se o mundo insiste em correr,

que ao menos o coração aprenda a ficar.

A permanecer no gesto,

na fé,

no amor que não se esgota.

 

Porque é ali —

no que é essencial e invisível —

que a vida verdadeiramente acontece.