Daqui de cima, eu posso ver a autopista. Minha visão não é mais a mesma, por causa do tempo e da poeira acumulada em meus \"olhos\".
Ainda assim, vejo alguns \"parentes\", bem mais jovens, passando de um lado pro outro. Uns rápidos demais, outros, nem tanto, mas todos fazendo aquilo que mais amei fazer, e já não posso mais.
Lembro-me das diversas vezes que viajei a trabalho, era cansativo, mas também era prazeroso cada vez que meu senhor botava as mãos em mim, ligava o rádio e lá íamos nós, sozinhos a cumprir nosso dever.
Minhas melhores lembranças são os passeios em família, ficava apertado, barulhento e sujo. Mas a alegria e as gargalhadas das crianças eram um presente pra mim.
Vivi idas a batismos, casamentos, aniversários, churrascos em família, futebol com amigos, cachoeiras, praias, shoppings e cinemas.
Acompanhei momentos tristes também, mas esses não quero recordar.
Não me lembro bem como foi que vim parar aqui, mas sei que desde então, nunca soube o que é ter dias felizes.
Deixaram-me, por um tempo , encostado num canto com tantos outros \"parentes\" , passaram se dias, semanas e meses, confesso que já estava até me acostumando com a rabugice dos mais antigos que eu, mas ainda tinha esperança que minha família viesse me buscar.
Um dia, o dono do lugar, chegou com uma coisa estranha, depois descobri que o nome é guindaste e que seria o único amigo com quem eu conviveria dali pra frente. O homem olhou-me, disse que a cor vermelha se destacaria. Levaram-me, prendaram-me em algo parecido com grossas cordas, içaram-me à altura do guindaste.
E aqui estou eu. Sigo os dias, observando a autopista, onde os mais jovens correm felizes nos caminhos onde um dia, fui feliz também.