giovana vicente

O silĂȘncio da cegonha

quando era mais nova

a minha cegonha me perguntava

se eu ainda me lembrava

de quando caí do céu

eu dizia que sim,

minha cegonha partiu

e eu ainda me pergunto

se o céu acolhe o que a terra não soube guardar

ou se apenas ecoa o que ficou entre nós

às vezes penso ouvir seu riso

misturado ao som das coisas que vivem

como se o tempo não tivesse levado tudo

há dias em que a ausência se espalha devagar

como neblina dentro do peito

e tudo o que resta é o silêncio,

esse lugar onde ela ainda existe

porque o amor, quando não cabe mais no mundo,

se disfarça de lembrança,

e continua aqui.