Monet Carmo

Se o outro pudesse ver...

o que nasce no escuro do meu pensamento
quando o corpo respira mais do que fala...
veria que o desejo não é o toque,
é o intervalo entre o toque e o quase.

há uma vertigem em imaginar o que tu imaginas,
o instante em que a pele do pensamento se dobra
e o espírito se despe, não de roupa,
mas da moral que o impede de sentir.

se o outro pudesse ouvir o que o outro cala,
o mundo seria um espelho quebrado em carne,
cada estilhaço refletindo um segredo,
um grito contido, uma fome antiga.

porque o amor, em sua forma mais impura,
é apenas a arte de desejar o desejo alheio…
a oferenda de existir dentro do que o outro imagina
quando pensa que ninguém o vê.

e eu te vejo.
não com os olhos,
mas com a nudez que só o pensamento permite.