O despertador grita, o sol nem acordou,
ele já veste o corpo com sono e dor nas costas.
A rua o engole, o ônibus range,
e o dia começa sem pedir licença.
Na escola, o quadro branco e cinza,
a cabeça pesa mais que a mochila.
Entre fórmulas, tarefas e metas,
ele sonha mas sonhar custa caro.
Depois, o curso. O relógio zombando.
As pálpebras quase fecham de tanto querer descanso.
Os colegas riem, a mente voa,
mas o corpo segue  automático, firme, cansado.
Chega em casa às vinte e três,
com o peito cheio de silêncio e vontade de sumir.
Os pais  trovões na sala,
acusam tempestades que ele nunca causou.
“Você não faz nada direito!” 
dizem, sem ver o quanto ele tenta.
Mas ele cala. Engole o grito.
Porque amar também é aguentar, às vezes.
E quando a casa dorme, ele respira.
Olha pro teto e pensa:
“Será que um dia vão enxergar
que o meu esforço também é amor?”
No escuro, o menino sonha.
Não com fama, nem com ouro.
Mas com um “tudo bem, filho”
dito sem raiva, dito com orgulho.