Magz

O que arde em mim

Hoje percebi que eu nunca fiz nada em toda a minha vida.

Eu queria ser mais, muito mais,

mas sempre estive ocupada fazendo nada,

o que sempre fiz.

 

Eu poderia ser mais inteligente,

mais extrovertida, mais educada…

e poderia ser menos também:

menos egoísta, menos boca aberta,

menos dramática,

menos essa coisa que sou.

 

Eu sinto como se não conseguisse tentar,

como se não conseguisse nem mesmo

chegar perto do potencial da minha alma.

 

Parece que há uma mão

que rasga o meio do meu peito

e procura algo dentro do meu corpo,

algo que eu não sei nomear.

 

Essa mão procura desesperadamente algo para agarrar.

Ela arranha, rasga e sangra de tanto buscar.

 

É isso mesmo.

Eu gostaria de ser inteira, completa…

Mas o que será que isso significa?

 

Será que esse sentimento é mesmo inevitável?

Não importa em que família ou lugar eu nascesse,

eu ainda me sentiria assim?

 

Mas, ao mesmo tempo em que digo querer ser completa,

eu me sinto completamente cheia,

transbordando.

 

O que eu sinto é uma corrente intensa

de água ardente, ácida, sem oxigênio,

passando pelo meu corpo.

 

E também transbordo de amor,

de admiração, de desejo.

Mas eles nunca são direcionados a mim.

 

Tenho uma alma de tinta e incêndio.

Sou uma chama que sabe sangrar.

 

O fogo líquido que me atravessa

é o rastro vivo das pessoas que tocaram minha pele,

minha alma e minha mente.

 

Isso queima.

Queima muito.

 

E eu sinto que transbordo tanto

que, no final,

afogo no meu próprio sangue incendiado.

 

Quero muito viver.

Mas queria que meu sangue voltasse a ser água —

pura, bonita.

 

Não que o fogo não seja belo…

Nele há tudo o que vivi até agora.

 

 

Preciso que essa mão finalmente pare de procurar.

Que encontre.

Que descanse.

 

Para que um dia,

quando eu conseguir amar a mim

com a mesma força com que amei o mundo,

essa chama volte.

 

Mas volte suave.

Não mais ferida.

Não mais faca.

 

Apenas calor.

Apenas vida.

Apenas eu.