Há um instante em que o tempo se cala,
e o ar parece conter o eco de um nome.
A cadeira vazia, o prato intacto,
o rastro de um perfume no corredor —
é assim que o coração percebe
que algo partiu,
mas continua respirando no invisível.
No ruído da chaleira, há lembranças que fervem.
O vento dobra o lençol no varal,
como quem tenta cobrir um corpo ausente.
O relógio marca horas que não se repetem,
e ainda assim, cada minuto carrega
a presença de quem já não caminha,
mas ainda ocupa o espaço do pensamento.
A saudade, antes sombria,
aprendeu a vestir-se de aurora.
Já não é punhal, mas semente —
brota entre as frestas da perda,
transforma o silêncio em canção,
o pranto em orvalho que alimenta memórias.
O vazio floresce, inesperado,
como jardim que nasce das cinzas.
Descubro, então, que a morte é só mudança de morada,
um deslocar de essência,
um passo adiante no mapa do amor.
Não há fim, apenas transição:
quem se vai torna-se luz,
guia os passos de quem ficou,
e no encontro entre dor e beleza
nasce o verdadeiro significado do eterno.
Agora compreendo:
a saudade não é ausência, é continuação.
É o modo que o amor encontra
para permanecer tocando o que não pode tocar.
E quando o sol se inclina no horizonte,
sinto — com uma ternura que o tempo não apaga —
que não há morte onde existe lembrança,
nem adeus onde o amor ainda respira.