\"No ônibus lotado, alguém escreve num guardanapo: “sinto saudade”. E ali, sem rima, sem métrica, nasce poesia.\"
Sezar Kosta
Ser poeta é ouvir o chão respirando.
É perceber o rumor do vento nas frestas do dia,
e traduzir em sílabas o que o silêncio murmura.
Não se aprende em livros o que nasce no peito —
a palavra é apenas o eco de um instante vivido.
Há poesia no pão que se parte,
na mão que segura outra mão sem dizer nada,
no olhar distraído que encontra o céu
como quem encontra uma lembrança esquecida.
O poeta não cria mundos:
ele recolhe as migalhas do real
e as transforma em luz possível.
Mas há dor também.
Ser sincero é caminhar descalço sobre espelhos,
é permitir que cada palavra corte um pouco,
antes de cicatrizar em verso.
A beleza não mora nas flores —
mas no gesto de quem as rega,
sabendo que um dia murcharão.
Ser poeta é não mentir ao sentir.
É escrever com o sangue tranquilo da verdade,
sem maquiagem, sem máscara, sem pressa.
Porque quando o coração é inteiro,
até o silêncio tem sentido —
e toda palavra,
mesmo a mais simples,
se torna eterna.